Os Ossos Xamânicos do Zen

COM OSHO ZENJU EARTHLYN MANUEL
27 de fevereiro, 27 de março e 1 de maio de 2022

“Eu sinto que meus ancestrais estão em paz com minha prática Zen, e que eles me guiaram através de outras tradições para a prática ritual e cerimonial. Eles precisavam que eu estivesse quieta e respirando, para então se aproximar com o que tinham para oferecer à minha vida.”
—Zenju Earthlyn Manuel

Índice clicável
– Dois livros de Osho Zenju
– Inscrição e doação
– Próximos encontros com tradução
– Gravação dos encontros e material de apoio

Concebido pela professora budista Zenju Earthlyn Manuel nas encruzilhadas do budismo e das práticas indígenas da terra, Os Ossos Xamânicos do Zen é uma série de três encontros para explorar tradições humanas profundas de transformação tornadas possíveis através das práticas de meditação, de ritual, de sonhos, e de conexão espiritual com a ancestralidade. Ao se inscrever uma só vez, você pode participar de um, dois ou de todos os encontros:

  • 27 de fevereiro — Ossos Xamânicos do Zen 1: Revelando o espírito ancestral e o coração místico de uma tradição sagrada
  • 27 de março — Ossos Xamânicos do Zen 2: Oferendas aos ancestrais
  • PRÓXIMO ENCONTRO: 1º de maio, 14h às 15h30 Ossos Xamânicos do Zen 3: Rituais de celebração e iniciação
Horários dos Encontros

Os encontros serão pelo Zoom e terão tradução simultânea ao português. Você receberá as instruções de acesso um dia antes do encontro através do email que nos informar na sua inscrição, abaixo. Você pode também participar do canal no Telegram para receber os lembretes e links dos encontros → @upayabr

Dois livros de Osho Zenju

Para quem deseja aprofundar, recomendamos o livro The Shamanic Bones of Zen: Revealing the Ancestral Spirit and Mystical Heart of a Sacred Tradition (ainda sem tradução para o português), onde Zenju Earthlyn Manuel desenvolve uma rica exploração das conexões entre as práticas Zen contemporâneas e a ancestralidade xamânica ou indígena. A partir de sua experiência pessoal com a igreja negra, cerimônias africanas, caribenhas e nativo-americanas, com o Nichiren e o Zen, Osho Zenju investiga os aspectos xamânicos e mágicos no budismo — muitos dos quais foram marginalizados na religião pelas forças colonizadoras e modernistas.

Com profunda reverência pela tradição Zen, e também com criatividade e confiança intuitiva, Osho Zenju mergulha nas profundezas de sua ancestralidade para se relacionar com a totalidade do presente. O livro oferece orientação para pessoas interessadas em desenvolver práticas ritualísticas em suas próprias vidas, tais como preparar um santuário, praticar recitações e cantos, e aprofundar a conexão com o corpo em cerimônias. O livro The Shamanic Bones of Zen estará disponível a partir de 8 de fevereiro. Você pode também ver o maravilhoso livro The Deepest Peace: Contemplations From a Season of Stillness, de Osho Zenju, já disponível.

Inscrição e doação

“Queridas amigas e amigos, o Upaya Zen Center está fechado para encontros presenciais desde o início da pandemia. O seu apoio é o que possibilita continuarmos oferecendo nossas atividades neste tempo tão desafiador. Assim, pedimos de coração que você faça uma doação por este encontro, para que possamos também apoiar nossos professores e a sanga, agora e no futuro.” —Roshi Joan Halifax

Para praticar generosidade e apoiar a continuação das atividades da Roshi Joan Halifax, dos residentes do Upaya Zen Center e os serviços prestados à comunidade, você pode fazer uma contribuição em qualquer valor para a conta abaixo (que abrimos apenas para receber as doações ao Upaya). Por favor, se inscreva no botão preto abaixo. O link do Zoom, as gravações e material de apoio serão enviados para o email que você nos informar na inscrição. Agradecemos profundamente pela sua confiança e bondade!

DADOS BANCÁRIOS PARA DOAÇÃO EM QUALQUER VALOR
(Não é preciso enviar comprovante)

PIX: iodris@gmail.com
Fábio Rodrigues
CPF: 006030389-13
Banco Inter – 077
Agência: 0001
Conta: 108588491

 

Próximos encontros com tradução

Receba lembretes e links dos próximos encontros pelo Telegram

 

Haverá tradução simultânea ao português também nos encontros abaixo, você já pode colocar na agenda:

3 de abril
PRESENTES: NA VIDA, NA MORTE, NO AMOR
Frank Ostaseski e Tara Brach

24 de abril
PERTENCER: O PODER DA COMUNIDADE
Frank Ostaseski e Vinny Ferraro

O Upaya Zen Center oferece uma grande variedade de programas para apoiar as pessoas na prática profunda do Zen até estudos sobre budismo engajado, pintura caligráfica e cuidados paliativos. Juntos e de forma contínua, nós exploramos como podemos viver de forma mais responsável, compassiva e alegre, e como podemos servir melhor a todos os seres. Você pode ver aqui a programação completa para 2022: upaya.org/programs

 

Gravação dos encontros e material de apoio

Abaixo você pode assistir a gravação com a tradução simultânea em português dos encontro do dia 27 de fevereiro e 27 de março. Caso deseje ver a gravação e os textos em inglês, você pode encontrar tudo na página do Upaya Zen Center.

27 de fevereiro — Ossos Xamânicos do Zen 1: Revelando o espírito ancestral e o coração místico de uma tradição sagrada

Leituras feitas no encontro (tradução de Jeanne Pilli):

Há uma experiência invisível da qual raramente se fala nas comunidades Zen. Eu experienciei a prática Zen como uma jornada xamânica do espírito, e descobri que isso é verdade para muitos outros praticantes. Tenho escrito sobre o sofrimento, particularmente como uma pessoa afetada por sistemas de opressão em meu país. Descobri que o ritual e a cerimônia em minha vida são a forma mais profunda de entrar em um reino de liberação e de corporificar a compaixão pela minha vida e por todas as outras.

Participei de muitos rituais e cerimônias, incluindo os das culturas africana e indígena americanas. No entanto, foram os rituais budistas, praticados diariamente, que se tornaram para mim uma representação visceral e constante de homenagem aos antepassados enquanto o ódio girava em minha mente. Estava me curvando e tocando a terra em reverência. Honrando a terra como ancestral, baixando a minha cabeça para receber sua bênção. Será que alguma vez eu realizaria a presença profunda dos grandes sábios ou xamãs do budismo? Esse não era o ponto.

Com o cheiro de incenso queimado, eu podia ficar ao lado de uma árvore de ágar que estava a dez mil milhas de distância. A luz da vela no zendo escuro era o fogo pelo qual surgiu a vida na terra. A escuridão era um lugar em que se podia nascer ou morrer. Se outros na prática zen tiveram esta experiência ou não, ou até mesmo se falaram de sua prática zen dessa maneira era um ponto discutível. Ocorreu uma experiência definitiva no Zen e no Budismo que aprofundou minha relação com o invisível, com os mundos espirituais e estados alterados de consciência.

Poderíamos nos perguntar o que pode surgir das simples práticas de sentar, cantar, fazer reverência. Mas nem mesmo essa prática tão nua não brotou de solo raso sem raízes e sem ossos. Não há nada puro em um mundo de inter-relação e história. Diz-se que até mesmo os ancestrais estão no ventre da Mãe Terra, ainda dando à luz. Nós somos eles.

Aqui está uma declaração antes de continuarmos: O Soto Zen não é considerada uma prática xamânica por muitos, e geralmente não é ensinada como tal. Mas se considerarmos os primórdios indígenas de todas as culturas, torna-se claro que existem histórias esotéricas, místicas ou xamânicas subjacentes a todas as espiritualidades e religiões. Os escritos sobre o budismo xamânico têm se centrado principalmente nas tradições na Mongólia, Shinto e Shingon no Japão, e no budismo tibetano. Estou escolhendo explorar o xamanismo dentro do Zen para preencher uma lacuna nessa tradição. E estou fazendo isso principalmente de um ponto de vista experiencial, especificamente, porque a maioria dos escritos sobre elementos xamânicos do budismo são de natureza acadêmica e pouco tem sido publicado sobre a experiência do encantamento da prática Zen. Raramente se ouve falar do Zen, e especialmente do Soto Zen, no discurso do xamanismo.

Em minha vida, um templo interno foi revelado nos cânticos e na meditação. Ele uniu meus sonhos, intuição profunda e uma inclinação natural para o Zen como um modo de vida. Em minha experiência dos rituais, cerimônias e formas por mais de vinte anos, fui conduzida a uma conexão indescritível com o infinito. Ela reúne misticismo e meditação em um lugar de plenitude. O Zen, para mim, tem algo a ver com o uso da fisicalidade da vida – usa a forma, ou seja, usa o corpo para experienciar as dimensões não vistas e invisíveis da vida.

Muitos não concordarão com esta exploração que estou apresentando. Eu não tenho escolha. Vim para o Zen com os olhos abertos, para nunca mais serem fechados. Quando as velas são acesas no zendo, o incenso é oferecido, e as reverências aos ancestrais são feitas, não posso deixar de honrar o que a terra revela – um Zen divino.

Compaixão não é afirmar nosso sofrimento ou nosso amor, mas ser despertado para o fato de que todos nós compartilhamos desta vida. A compaixão não pertence ao reino do comportamento. Não é bondade ou gentileza. Não é piedade, simpatia, misericórdia, empatia ou caridade, porque essas coisas exigem que olhemos para o outro como se não fossem nós mesmos. Ao sentir em meu eu animal, a compaixão é uma experiência de vida que se eleva em meio ao nosso sofrimento. A compaixão é uma presença e uma experiência que surgem quando se sente uma aceitação do ser humano que é vulnerável e que sofre. A compaixão não é uma coisa a ser realizada, embrulhada como um presente, dada como um presente, ou praticada. Ela transborda da ebulição na dor mais profunda ser derramada no colo daqueles que o cercam. Esta é a experiência da paz em um círculo de humanidade de seres que vivem juntos, e não em um grupo que explora o outro.
A compaixão é quando a neve espessa cai e recobre o caminho dos coelhos que se arrastam em busca de segurança. É o oceano, tão vasto que leva água para todos os continentes. Não podemos nos tornar isto.

27 de março — Ossos Xamânicos do Zen 2: Oferendas aos ancestrais

Leituras feitas no encontro (tradução de Marcus Telles):

Velas são acesas e colocadas em altares que foram preparados com antecedência, cobertos com tecido refinado sobre o qual as oferendas são recebidas. O arroz e o chá são carregados em copos e bandejas laqueados em vermelho. Cada pessoa na procissão segura uma torre de oferendas no coração, suas mãos posicionadas em ambos os lados da bandeja. As oferendas são alinhadas de modo a formar uma imagem de palmas reunidas em reverência. As mãos estão conectadas com a oferenda. As mãos são para dar e para receber. A oferenda é erguida sobre a cabeça inclinada da pessoa receptora, o(a) professor(a), que incorporou os ensinamentos por décadas, pois a oferenda para o Buda é toda a vida da pessoa. Fazer oferendas é um ato do espírito por meio dos nossos corpos. Nós não estamos fazendo algo: nós estamos sendo levadas(os) a um alinhamento com o não-visto, a talidade, o inexprimível e o insuperável. Em suma, as pessoas, os ensinamentos e a terra que sustentaram a tradição de sabedoria devem ser honradas anteriormente às atividades em que a comunidade espiritual irá participar e com as quais irá se curar e se transformar. Fazer oferendas aos/às ancestrais é uma expressão sem palavras da devoção ao despertar e um reconhecimento da terra que nos sustenta.

Africanas
Nas muitas cerimônias em que eu participei com videntes da tradição Vodou do Daomé, na África, sempre havia um grande altar em honra dos/as amados ancestrais. Todos os elementos que sustentam nossas vidas estavam presentes: uma grande fogueira para satisfazer e receber os/as ancestrais; suas comidas, doces e bebidas favoritas; charutos e outras formas de tabaco. Tudo isto era oferecido para que os cantos, tambores e danças fossem recebidos e as preces erguidas na atmosfera.

Lakota
Nas cerimônias do caminho Lakota em que eu participei, os altares eram erguidos no chão a partir do solo da terra. Eles eram o lugar para onde eram levados os ossos e peles dos ancestrais animais, vistos como medicinais. E neles eram mantidos os chanupas (cachimbos), que eram preenchidos com as preces das pessoas que iam dançar em nome da comunidade. Os remédios da terra, como sálvia, erva-doce e cedro, eram infundidos por reza e oferecidos, por sua vez, para os/as ancestrais e para as pessoas participantes da cerimônia.

Budistas
As oferendas rituais para ancestrais são centrais para a vida cerimonial da maioria, senão de todas, as tradições budistas. Comida, flores, água, incenso, arroz, doces, chá, oferendas esculpidas e outros itens significativos são dados para invocar e honrar os/as ancestrais da linhagem ou escola.

Ancestrais
Ancestrais são todos os seres e coisas que existiram no planeta antes do seu nascimento. Ancestrais podem incluir a terra, a lua, o sol e as estrelas. Podem incluir as pessoas na sua linhagem sanguínea (amadas ou não-amadas). Inclusive aquelas que queremos repudiar porque sentimos que elas não caminharam com integridade ou causaram danos às demais. Suas “ações errôneas” têm algo a ver com como vivemos pessoal e coletivamente, e elas também são ancestrais. Ancestrais também são pessoas na linhagem da sua prática espiritual e seres na linhagem da própria vida. Todos os caminhos espirituais e religiosos são ancestrais. O budismo é uma prática ancestral em que o Buda é o ancestral mais reverenciado. É por isso que oferendas da terra são feitas para os seus ensinamentos. O Buda sabia que ele próprio estava em um fluxo de ancestrais, também conhecidos como Budas. Houve Budas antes desse Buda em particular que é exaltado hoje.

Gansos selvagens, por Mary Oliver
(Tradução de Larissa Lemos)

Você não precisa ser boa.
Você não precisa andar de joelhos
por cem milhas através do deserto se arrependendo.
Você só precisa deixar o animal macio do seu corpo
amar o que ele ama.
Fale-me sobre desespero, o seu, e eu lhe direi o meu.
Enquanto isso, o mundo segue.
Enquanto isso, o sol e os seixos claros da chuva
estão se movendo através das paisagens,
sobre as pradarias e as árvores profundas,
as montanhas e os rios.
Enquanto isso os gansos selvagens, no alto do ar azul limpo,
estão indo para casa novamente.
Quem quer que você seja, não importa o quão solitária,
o mundo se oferece à sua imaginação,
lhe chama como os gansos, duro e excitante –
de novo e de novo anunciando seu lugar
na família das coisas.

1 de maio — Ossos Xamânicos do Zen 3: Rituais de celebração e iniciação

Leituras feitas no encontro (tradução de Marcus Telles):

Nós nos alinhamos para o jundo. Começando de trás para frente, a última pessoa sai da fila, se curva a partir da cintura, com as palmas das mãos reunidas, e, caminhando lentamente, passa pela pessoa que está próxima a ela, sem encará-la. Ela apenas se curva, profunda e silenciosamente. Eu sigo a primeira pessoa, me curvando a partir da cintura, mãos reunidas, caminhando em reverência. As outras pessoas estão esperando com suas cabeças curvadas. Quando eu chego às pessoas que lideraram as cerimônias e rituais, eu paro, olho para elas, e me curvo. Eu começo a caminhar de novo, me curvando a partir da cintura, com as palmas das mãos reunidas. As outras pessoas estão me seguindo, como um rio de pessoas fluindo para dizer obrigado(a). Obrigada pela comida, pela cama, pelo assento que permite o despertar através dos desafios da vida. Obrigada pela sua paciência. Obrigada por me mostrar para mim mesma. Obrigada. Obrigada. Obrigada.

A transmissão da lâmpada

Após nove anos terem se passado, o mestre Bodhidharma quis voltar à parte ocidental da Índia. Ele disse aos seus discípulos, “É chegado o momento de eu voltar para casa. Eu quero que cada um de vocês mostre o seu entendimento.”

Um discípulo, Dao Fu, respondeu, “De acordo com o que eu entendo, a função do Tao não pode ser compreendida através de conhecimento literal, nem é separada do conhecimento literal.”
O mestre comentou, “Você ganhou a minha pele.”

Uma monja, Zong Chi, disse, “O que eu compreendo agora é como o vislumbre que Ananda teve do reino de Buddha Akshobhya. Ele pode ser visto na unicidade, mas nunca na dualidade.”
O mestre disse, “Você ganhou a minha carne.”

Dao Yu disse, “Os quatro grandes elementos são originalmente vazios, os cinco agregados não existem e, na minha compreensão, não há uma única coisa a ser encontrada.”
O mestre declarou, “Você ganhou os meus ossos.”

Por fim, Huike se curvou e se manteve sua posição [remained standing] em seu assento.
O mestre disse, “Você ganhou minha medula.”

Olhando para Huike, o mestre disse a ele, “Em dias passados, o Tathagata entregou a Mahakasyapa o Verdadeiro Olho do Dharma. Sendo passado de um patriarca para o outro, ele chegou às minhas mãos. Agora eu estou dando-o para você e você deve cuidar bem dele. Além disso, eu te darei o meu robe amarelo, que deve ser testemunho de fé no Dharma. Cada um tem um significado que você deve saber.
Huike disse, “Você revelaria a mim, por favor, o significado?”

O mestre disse, “Por carregar o selo do Dharma, você estará internamente de acordo com a mente aprovada e manter o robe irá fixar a mensagem espiritual externa. Em gerações posteriores, quando a confiança mútua estiver frágil e dúvidas surgirem, as pessoas poderão dizer – ‘ele era um homem da Índia, e você é um filho dessa terra, como pode o Dharma ter sido transmitido? Qual prova há?’ Agora que você está recebendo o robe e o Dharma, eles podem ser produzidos como prova e os obstáculos à atividade da mensagem serão liberados.”

* * *

A organização deste evento é do Upaya Zen Center. A divulgação e tradução ao português é um oferecimento humilde e voluntário de Jeanne Pilli, Geovana Colzani, Marcus Telles, Vitor Boufleur, João Matheus Giacomini, Larissa Lemos, José Benetti e Fábio Rodrigues. Que os méritos se multipliquem para o benefício de todos!