Esta é a arte que criei para apoiar o ciclo Vida e Morte na comunidade do lugar. Alguns dos elementos que compõem a imagem são a caveira humana risonha, as chamas, os olhos abertos que nos fitam, as flores de cinco pétalas abertas e as suas cores.
Vida e morte são de suprema importância —
impermanentes e rápidas.
Acordem, todos vocês.
Não desperdicem suas vidas.(Recitação da tradição Zen conhecida como Hange)
A caveira é talvez o símbolo mais comum para a morte. “Memento mori”. Na iconografia ligada ao budismo tibetano, o crânio humano é um símbolo também da impermanência, e muitas vezes é representado sorrindo ou até gargalhando, nos lembrando que é possível despertar para a liberdade e destemor não apenas em face da morte, mas também da vida como ela se apresenta neste momento, ou mesmo para a visão da realidade absoluta de que, na verdade, nós já repousamos além de vida e morte.
Dos cantos do riso emanam chamas ondulantes. Em muitas tradições o fogo representa a purificação ou renovação. “Igne Natura Renovatur Integra”. Nas imagens tibetanas, as chamas que circundam as deidades iradas são compreendidas como labaredas de lucidez. Elas queimam, iluminam, aquecem e resplandecem como o fogo inesgotável do sol (uma das imagens da sabedoria) que se manifesta pelo ardor sem se consumir.
Os olhos bem abertos fitando à frente, para você, que olha de volta, dizem que a morte lhe diz respeito. Cada um de nós morrerá, então, é para cada um de nós que a transiência oferece sua lucidez amedrontadora. À distância de um braço, alcançável, a morte nos olha atenta e continuamente.
Tornar a liberação praticável, através de quaisquer meios, é bondade e compaixão. Verde turquesa é a cor das vestes sobre os ombros de Avalokiteshvara, a bodisatva da compaixão, e representa a bondade amorosa (metta), a aspiração de que todos possam encontrar a felicidade da realização. O despertar que vem pela contemplação da impermanência pode nos aparecer como desafiador, assim, o verde aponta ainda para a sabedoria irada do Buda Amogasidi.
Por fim, a caveira sorridente está adornada com flores brancas completamente abertas. As flores são uma representação bastante universal da vida e da beleza. O branco é uma cor apaziguadora, as cinco pétalas indicam o florescimento pelas sabedorias de acolhimento, oferecimento, discriminação, causalidade e de ver o que verdadeiramente somos. Abertas, elas dão suas qualidades de forma completa, sem reter ou negociar nada.
Que a contemplação da transiência possa nos despertar para a preciosidade da vida, para a compaixão e a sabedoria sempre disponíveis, para a mente livre de inclinações, além da vida e da morte.